sexta-feira, 28 de março de 2014

Sete Princípios Para Viver a Quaresma

    A Quaresma é um tempo do ano litúrgico que nos prepara para o acontecimento da morte e ressurreição de Jesus. Para que não seja “mais uma”, apresentamos sete princípios para viver a Quaresma de modo especial, tal como é o intuito pastoral.


1- Rezar com o Senhor: 
    
    Como posso viver uma relação se não me relaciono? Santa Teresa de Jesus escreveu que «rezar é falar com Deus», é estar com Ele, escutar o que Ele tem para me dizer e dizer-Lhe, literalmente, o que me vai na alma. Como se reza? Já os discípulos fizeram essa pergunta a Jesus, e Ele ensinou-lhes o Pai Nosso. Também disse que se reza em segredo, a sós com Deus, e para sermos como as crianças: simples e verdadeiros. Reza diariamente é a primeira tarefa para viver a sério esta Quaresma. Se rezarmos como o Senhor e com o Senhor, a oração terá um valor maior, pois como diz Santo Agostinho, «Jesus Cristo, o Filho de Deus, é o mesmo que ora por nós, ora em nós e recebe a nossa oração».

 2- Fazer Jejum: 

    Fazer jejum implica que eu seja vigilante com o meu consumo, o que por sua vez implica renunciar não apenas ao excedente, mas também ao que me faz falta. O jejum ou renúncia pode ser material, como os alimentos ou dinheiro, mas também pode ser de maus pensamentos, maus actos e más palavras. O Papa São Leão Magno (séc. IV) dizia que «no estádio do jejum não nos limitemos a pensar que baste praticar a abstinência dos alimentos; é muito pouco diminuir o vício da carne, se não se nutrir a fortaleza do espírito; afligindo-se um pouco o homem exterior, reforça-se o interior». Só assim os frutos do jejum serão as experiências de partilha. Se prescindimos, podemos dar. Renunciar a gastar dinheiro para depois o armazenar para mim, poupando, não será uma verdadeira renúncia. Se com o meu acto eu poder ajudar quem mais precisa, então estou a fazer a verdadeira renúncia, ligando-a a um gesto de caridade.

 3- Dar esmola: 

    Esmola é uma palavra em desuso. Trata-se de uma palavra que provém do grego, cujo significado é piedade, misericórdia, compaixão. Ora, ter compaixão pelo outro é mais do que um sentimento nobre. Ter compaixão significa que o outro é alguém com valor e dignidade, e do qual sou próximo. Por isso me devo aproximar dele, elevá-lo, ajudá-lo. Dar esmola é sobretudo dar por amor. Não é ser solidário nem fazer “caridadezinha”, ou seja, não é dar porque é correcto ou por que fica bem. Não. Dar esmola é praticar a misericórdia, agir na caridade. Em suma, a Si mesmo dom por nós. Que gratuitamente ofereceu a Sua vida – e Ele podia ter escolhido fazer tantas outras coisas. Ao dar esmola, não nos apeguemos á imagem da moeda ofertada, mas é imagem do rosto de Jesus no outro.

 4- Retirar-me a sós: 

    Procure e aproveite as propostas de retiro na sua diocese, paróquia ou movimento. O retiro é um momento de pausa em que na companhia de Deus olhamos para a nossa vida. «Sou eu quem conduz a minha vida, é a minha vida que me conduz a mim?», perguntava em tom de desafio o padre jesuíta Luís Rocha e Melo, no livro Se tu soubesses o dom de Deus. Ele continuava: «Sou pessoa livre que sabe o que quer e discerne o essencial, ou sou como o tronco de uma árvore levado pela corrente do rio?» O tempo de retiro serve para sintonizarmos a nossa vida com a vontade de Deus. É essencial para a humildade e despormos o espírito para contemplar o Mistério da Cruz e da Ressurreição.

 5- Penitenciar-me a Deus: 

    Diz-nos o Youcat Confissão que a confissão é semelhante à manutenção de um automóvel. Quanto mais se adia ou prescinde, mais o automóvel se deteriora até ao dia em que deixa de trabalhar. Se tratarmos bem o nosso automóvel, porque não haveremos de cuidar da nossa relação com Deus? Ele perdoa se nos aproximarmos do Seu perdão, e é necessário recusar o pensamento de que a sós com Ele tudo se resolve. Nada acontecerá se não dermos aquele passo em direcção à paz de Deus que pelo seu instrumento que é o sacerdote Ele nos concede, se com coração contrito nos aproximarmos d’Ele. Este é o momento certo. 

6- Percorrer a Via-Sacra: 

    Em algumas localidades do nosso país, a Via-Sacra é realizada com todos os adereços de vestuário, objectos, maquilhagem, relembrando os intervenientes do relato da crucificação de Jesus. Tudo isso é bom, mas não fique pelas aparências. Cuide de conhecer o texto. Esteja atento a cada ponto de oração. Mais do que recordar, a Igreja realiza a Via-Sacra lado a lado com Jesus, trazendo-a para o presente e percebendo o seu sentido hoje. Dietrich Bonhoeffer, pastor luterano morto pelos nazis na Segunda Guerra Mundial dizia que «os caminhos de Deus são os caminhos que Ele próprio percorreu e que nós agora temos de percorrer com Ele». Isto é verdade na celebração da Via-Sacra e também no quotidiano de todos os dias.

7- Celebrar o Tríduo Pascal: 

    O Tríduo Pascal é o momento mais importante de todo o ano litúrgico, por isso a participação em todas as suas celebrações é fundamental. Reserve desde já esses dias e faça por respeitar essa reserva. De facto, é para o Tríduo Pascal que tudo converge. A Paixão de Jesus, a Sua morte e ressurreição são os pilares autênticos em que a nossa fé assenta. «Se Cristo não ressuscitou é vã a nossa fé», escreveu São Paulo aos Coríntios. Com Jesus o Filho de Deus, que se dá na Eucaristia, Ceia do Senhor, na Quinta-Feira Santa, aprendemos que o silêncio da morte de Sexta-Feira Santa é o momento indispensável para que a verdadeira luz da fé comece a brilhar aos nossos olhos. Na vigília pascal, madrugada do Domingo de Páscoa, a noite dá lugar ao dia, e a ressurreição de Jesus dá lugar à Vida em abundância. Não celebrar estes acontecimentos é não compreender o significado do cristianismo.


QUARESMA 
40 dias para percorrer com a Renascença

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